terça-feira, 5 de janeiro de 2016

“De 19 cirurgias à tocha olímpica e palestrante!”

Meu nome é Felipe de Souza Lima (aqui) e completo 25 anos neste mês de Janeiro. Moro em Juiz de Fora, Minas Gerais e sou cadeirante. Nasci com uma má formação genética chamada Mielomeningocele, em outras palavras, nasci com o líquido da Medula pra fora da coluna e os nervos que iam para as pernas também para fora da Coluna.

Essa minha deficiência é considerada uma das mais graves que se têm conhecimento, pois, trás com ela vários tipos de doenças ou problemas fisiológicos dependendo do nível da lesão. No meu caso, tive vários problemas de saúde por causa dessa deficiência que me levaram a passar por 19 cirurgias. Cada cirurgia era um drama familiar, uma esperança!

Apesar de ter passado por tantas cirurgias, elas me ajudaram e muito na melhoria da minha qualidade de vida. As cirurgias que eu fiz foram: na coluna, na bexiga, nos rins, na cabeça, no intestino, na vesícula seminal e na uretra. Da onde tirei tanta força? Se não fosse a minha fé em Deus, e também, a fé, a oração e o apoio da minha família, dos meus amigos e amigas, hoje eu não estaria aqui, neste blog, contando minha história de vida e levando a minha mensagem por meio de palestras para os outros!

Algumas partes da minha história cabem ressaltar! A primeira que eu vou contar é a 1° cirurgia que eu fiz para fechar a coluna, pois como eu disse anteriormente, nasci com a coluna aberta. Falando assim parece que foi fácil, mas não foi, pois os médicos não me deram nem 24 horas de vida. Quem disse que a ciência responde tudo? A segunda cirurgia, por sua vez, foi por causa de uma doença que eu tive chamada Hidrocefalia, que é o acúmulo de líquido na cabeça. Eu passei por mais 3 cirurgias por causa da Hidrocefalia: a primeira eu coloquei uma válvula na cabeça no lado direito para drenar o líquido da cabeça, mas por causa de erro médico, de acordo com que eu ia crescendo a válvula não ia, até ela entupir, e eu ter Meningite, mas com a graça de Deus não tive seqüela. Coloquei uma provisória até a doença passar e depois coloquei uma definitiva no lado esquerdo.

A outra que me lembro que eu tive que passar que foi uma aprovação e superação foi a cirurgia de aumento de bexiga. Eu tinha a bexiga do tamanho de uma bexiga de um bebê isso com 9 anos, quando eu operei e voltei, fiquei sem falar uma semana, e novamente com o poder da oração voltei a falar.

Nesse espaço de tempo teve os preconceitos que sofri nas ruas, nas escolas que estudei. Tive e tenho muitos amigos mas passei por muitos preconceitos. Eu até enfrento o preconceito de peito aberto.

Para melhorar minha independência na cadeira de rodas fiz tratamento na Rede de Hospitais Sarah Kubitschek. Fiz tratamento lá durante 14 anos, dos 6 aos 20 anos, isso tudo para me tornar uma pessoa independente. Claro que não posso deixar de falar aqui que, além disso, houve um grande incentivador para melhorar ainda mais minha qualidade de vida: o esporte. Aconteceu assim:

Aos 5 anos de idade comecei fazendo natação, não para competir, pois não tinha ninguém com quem eu pudesse competir, fiz apenas para não ficar parado e manter minha saúde. Já aos 6 anos comecei a acompanhar jogos da Liga Americana de Basquetebol que passava na Bandeirantes, onde jogava o maior astro de todos os tempos: Michel Jordan, depois veio um filme dele chamado "Space Jam". Entrei então em uma escola de basquete onde eu tive que enfrentar um pequeno problema mas que não me abateu, eu era o único jogador com deficiência, com 9 anos eu recebi o convite de um Professor de Educação Física amigo meu que trabalhava na Secretaria de Esportes e Lazer de Juiz de Fora para participar do Ranking de Corridas Rústicas de Juiz de Fora e assim eu fiz.

Nesse tempo eu não parei com o basquete, pois como eu não tinha equipe de corrida eu usava o basquete como um treino de condicionamento físico. Continuei jogando até meus 12 anos de idade onde tive que parar por 1 ano por causa de problemas familiares, mas com as corridas eu continuei. Quando retornei com o basquete com 13 anos retornei também com a natação ambos com o objetivo de condicionamento físico porque eu não tinha condições físicas e financeiras para frequentar uma academia.

Com o tempo fui parando de jogar basquete e nadar, passando a me dedicar exclusivamente às corridas. Com 18 anos comecei a fazer academia e passei na Faculdade de Educação Física do qual hoje, eu estou quase me formado. Atualmente o meu maior sonho:

Trabalhar na minha área. Quero realizar é trabalhar na reabilitação de pessoas com deficiência ou seguir a carreira profissional de atleta se for da vontade de Deus.

Fui entrando em algumas equipes de corrida e atualmente pertenço a Equipe de Corridas do Clube Bom Pastor de Juiz de Fora - MG. Mas ainda é um obstáculo a ser vencido pois, desde a época que comecei a correr até hoje, o número de pessoas com deficiência correndo é muito pouco. Tenho lutado para aumentar esse número de participantes.

Para completar a minha felicidade e provar o poder da fé, participei de uma Promoção da Coca-cola chamada ‘Isso é Ouro’, que dava direito a participar do revezamento da Tocha Olímpica Rio 2016. Eu teria que ser indicado por uma pessoa e essa pessoa deveria contar um pouco da minha história, enfim, responder ‘porque eu mereceria levar a tocha olímpica’.  Essa pessoa indicada foi um primo.  Passado algum tempo me ligaram da Coca-cola e me disseram: ‘você foi um dos escolhidos para carregar a Tocha!’ Vibrei de alegria! Será no dia 15 de Maio de 2016, aqui mesmo em Juiz de For (MG) e conto com você!

Finalizando essa minha grande história de superação, de alegrias, de  tristezas, de fé e esperança,  vou deixar aqui uma frase de minha própria autoria para aqueles que crêem e lutam pelos seus sonhos:


“Se você acha que eu estou preso por estar em uma cadeira de rodas, se enganou! Minha cadeira de rodas me liberta para seguir meus sonhos e objetivos, enfrentar meus desafios, que não são nada fáceis, porém, com fé em Deus eu sei que venço, pois é nele que encontro minhas forças.” 

Nenhum comentário:

Postar um comentário